O Atlético-PR usou dinheiro que deveria ser aplicado na reforma da Arena da Baixada, estádio mais atrasado da Copa do Mundo, para contratar um jogador.
A CAP S/A, empresa constituída pelo clube para receber recursos públicos específicos para a obra do estádio, transferiu R$ 1,5 milhão ao Vitória-BA para comprar 50% dos direitos econômicos de Léo, lateral-direito.
A transação foi efetuada em 26 de dezembro de 2013, conforme extrato da transferência obtido pela Folha de São Paulo.
A conta da CAP S/A, de onde saiu esse valor, recebeu R$ 226,4 milhões de dinheiro público. São financiamentos do BNDES, que liberou R$ 131,1 milhões, e do governo do Paraná, cujo empréstimo foi de R$ 95,3 milhões.
Essa quantia deveria ser utilizada exclusivamente para a reforma do estádio.
O Atlético-PR também aportou cerca de R$ 38 milhões na obra da arena.
Ou seja, não é possível saber se o R$ 1,5 milhão usado na contratação é dinheiro público ou do próprio Atlético-PR. No entanto, a quantia não poderia ser utilizada para outro fim que não fosse a reforma do estádio.
“A CAP S/A é uma empresa de propósito específico: a reforma do estádio”, afirma Reginaldo Cordeiro, secretário da Copa em Curitiba. “Eu não sabia dessa movimentação. É estranha”, completa.
“O dinheiro da CAP S/A é para a Copa”, emenda Mário Celso Cunha, coordenador-geral da Copa no Estado do Paraná, que também desconhecia a operação.
A falta de verba para a obra da Arena da Baixada, aliás, colocou em risco a participação de Curitiba na Copa.
No início de 2014, o Atlético-PR sinalizou que só possuía dinheiro para tocar a reforma até o fim de fevereiro. Este fato gerou insegurança na Fifa, que ameaçou excluir a sede do Mundial.
Para solucionar o problema, o governo do Paraná se comprometeu a ajudar e tenta levantar mais R$ 65 milhões com o BNDES.
Se aprovada, a nova remessa entrará na conta da CAP, que também se beneficia de isenções fiscais concedidas pelo governo federal.
NEGÓCIO DESFEITO
A transferência do valor serviria para que o Atlético-PR comprasse 50% dos direitos econômicos de Léo.
A transação foi efetuada, mas um conflito entre o clube paranaense e o Vitória fez com que contratação do jogador naufragasse.
Agora, o Atlético-PR quer receber de volta a quantia paga. E Léo acabou contratado pelo Flamengo.
DONO DA ARENA, CLUBE NÃO COMENTA A NEGOCIAÇÃO
Procurado pela reportagem , o Atlético-PR não respondeu aos questionamentos acerca da transferência de R$ 1,5 milhão até a conclusão desta reportagem.
O site da CAP S/A, empresa gerida pelo clube paranaense, diz que ela é uma Sociedade de Propósito Específico, responsável por todas as questões relacionadas à obra da Arena da Baixada.
Folha de São Paulo