Atletas brasileiros sofrem prejuízo em suposta pirâmide

Um negócio milionário no interior de SP, suspeito de funcionar como pirâmide financeira, acabou em prejuízos para investidores como jogadores de futebol e medalhistas olímpicos da natação.

No grupo estão os nadadores Thiago Pereira, Fabíola Molina e Cesar Cielo. Juntos, investiram cerca de R$ 2 milhões, sob a promessa de lucro alto e rápido.

A suposta pirâmide, agora investigada, começou em 2011 quando duas empresas de logística precisaram de dinheiro para expandir.

Contratadas por grandes indústrias para exportar ou importar produtos, elas conseguiam lucrar com a seguinte estratégia: quitavam antecipadamente o frete de determinada mercadoria para, depois, receber o pagamento das indústrias, com lucro.

Por exemplo: para enviar produtos à China, essas duas empresas pagavam ao embarcador cerca de R$ 150 mil. Depois que a mercadoria chegava ao destino, recebiam pelo serviço cerca de R$ 170 mil das indústrias, em parcelas.

Conforme o negócio crescia e mais indústrias contratavam os serviços, aumentou também a necessidade de dinheiro em caixa para o pagamento antecipado dos fretes. Foi então que as empresas buscaram mais investidores.

Uma dessas empresas é a AC&K Berna, de São José dos Campos, que pertence à família do ex-goleiro do Fluminense Ricardo Berna, hoje no rebaixado Náutico.

Os contratos entre as empresas e os investidores eram do tipo SCP (Sociedade em Conta de Participação), considerados pouco seguros, mas assinados entre a AC&K Berna, parentes e amigos.

A AC&K Berna tinha como sócia a empresa de comércio exterior MC Camargo, de Campinas, responsável pela parte operacional e pelos contatos com as indústrias.

No fim de 2012, já com mais de uma centena de investidores, as duas empresas de logística chegaram a ter cerca de R$ 100 milhões em caixa.

Foi então que, no primeiro semestre deste ano, o negócio ruiu: a AC&K parou de captar recursos com outros atletas, acabou o lucro e os investidores não receberam o dinheiro de volta.

NA JUSTIÇA

Hoje as empresas travam uma disputa na Justiça. A AC&K Berna, que diz ser vítima da MC Camargo, cobra da ex-sócia R$ 35 milhões para ressarcir 143 investidores.

À Justiça, a AC&K disse suspeitar que parte dos fretes, operacionalizados pela outra empresa, nunca tenha existido. Nesse caso, os lucros até então repartidos teriam vindo do dinheiro dos novos investidores, o que caracterizaria uma pirâmide.

No caso dos nadadores, o plano era investir num grupo de elite de atletas para treinar para a Olimpíada de 2016 em um centro a ser construído em São José dos Campos.

O grupo contratou membros da comissão técnica da seleção para o projeto. Há reclamações de investidores no site Reclame Aqui. Procurados, Molina, Cielo e Thiago não comentam o caso. As empresas não falam do processo, que corre em sigilo na 7ª Vara Cível de Campinas.

OUTRO LADO

O advogado da MC Camargo, Cristiano Bovolon, disse que o processo no qual a empresa é cobrada está em segredo de Justiça e que, por isso, não comentará o caso.

Bovolon disse ainda que, se a reportagem fosse publicada, “adotaria as medidas judiciais cabíveis contra as pessoas que forneceram informações” sobre o processo.

O advogado Paulo Leme, que representa a AC&K Berna no processo contra a ex-sócia MC Camargo, disse que não poderia comentar o caso em detalhes, mas afirmou que a firma “se sente tão prejudicada quanto os investidores” que perderam dinheiro.

Questionado sobre a suspeita de que parte das operações de transporte nunca tenha ocorrido, Leme afirmou: “A suspeita de que foi uma pirâmide financeira existe”.

MULTINACIONAL

MC Camargo e AC&K Berna eram, à época dos negócios, representantes no Brasil da multinacional IJS Global, gigante de logística.

A Folha procurou a empresa e foi informada por uma funcionária que a IJS rescindiu o contrato com suas representantes no país.

A funcionária disse também que um advogado da multinacional entraria em contato com a reportagem, o que não ocorreu até o fechamento desta edição.

O processo corre na Justiça de Campinas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

http://www1.folha.uol.com.br

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