Assassinato de Valério Luís:Família vai pedir revogação de HC que liberou Maurício Sampaio

 

A família de Valério Luiz prepara para o próximo dia 05 de julho uma manifestação na Praça Cívica, data em que se completa um ano da morte do cronista esportivo. Eles preparam também recurso contra o Habeas Corpus (HC) que liberou o suspeito de ser o mandante do crime, o cartorário Maurício Sampaio. Segundo o também cronista esportivo Mané de Oliveira, pai da vítima, a família aguarda apenas a publicação do HC para que possam recorrer da decisão.

Mané de Oliveira passou essas e outras informações ao Portal Rota Jurídica após a publicação, também no site, de declarações de Maurício Sampaio. Na entrevista, Mané contesta informações dadas pelo cartorário, afirma não acreditar em sua inocência e, ao contrário do que Sampaio afirmou, diz que há no inquérito provas suficientes para incriminá-lo. Além disso, ele conta como era a relação entre Valério e Sampaio, que já de amizade e terminou em desavença. Fatos que tem o futebol como pano de fundo. Confira a entrevista:

RJ – O Maurício Sampaio afirmou ser inocente e disse que não foram abordadas outras linhas de investigação. E que ele sempre foi apontado como o mandante do crime. Afirma ainda que seria, no caso, um preso político, pois queriam tirá-lo do cartório. O que o senhor acha disso? 
Mané de Oliveira – Não acredito na inocência, porque conheço a história dele com o Valério e também dentro do futebol. O conheço publicamente como um cidadão intempestivo no futebol. Para se ter uma ideia disso, ele tentou agredir o vice-presidente da CBF na porta do Serra Dourada, agrediu fisicamente o jornalista Alípio Nogueira e teve entreveros com dirigentes do Goiás e da Federação. Dentro do futebol ele era uma pessoa intempestiva. Antes de 2007, ele o Valério eram amigos. Depois de uma denúncia de tentativa de corrupção do Atlético, na cidade de Barra (PI), que foi feita pelo Valério, começou, então, o atrito entre os dois. Isso durou determinado tempo, culminando com o comentário que ele (o Valério) fez contra o Atlético, no ano passado, que o time seria eliminado e que a culpa disso era do Maurício Sampaio e da diretoria. Quando o Valério fez esse comentário, o âncora do programa disse “mas o Maurício Sampaio e o coronel Urzêda deixaram o Atlético”. Daí, o Valério disse assim: “Em filme de cowboy é assim: quando o navio está afundando, os primeiros que saem são os ratos”. A partir desse momento, agitou-se totalmente o time do Atlético. O Valério criticou também o Valdivino de Oliveira (presidente do clube) e o Adson Batista (diretor de futebol). Imediatamente foi feita uma carta para as duas emissoras que o Valério trabalhava pedindo a sua saída. Elas não aceitaram. A carta foi assinada pelo presidente do Atlético e por ele, sendo que o Valério não tinha nada contra o Valdivino, pelo contrário. Ele dizia que o Valdivino era a única pessoa não descartável no Atlético.

RJ – O Maurício diz que assinou, mas que a carta não foi uma iniciativa dele.
Não tem nenhum motivo para os outros assinarem. O Valério não tinha atrito nenhum com os outros dirigentes do Atlético. Ou foi o Maurício ou foi o Adson Batista (que assinou a carta). Mas, se ele não quisesse, era só ele não assinar. Inclusive, ele já tinha saído do Atlético. De repente, após a carta, houve a proibição do Valério e das equipes do Valério de entrarem no Atlético. Proibição essa, avalizada por ele (Maurício). Foi quando começou o atrito total entre eles. Quinze dias depois de o Valério falar dos ratos, ele foi executado na porta da Rádio Jornal.

Agora, a polícia não tinha outra linha de investigação, porque, quando não se tem elementos,  não tem como fazer isso. Por exemplo, poderia ser crime por causa de mulher. Aí, questiona-se: Valério tinha amante? Não tinha. Tem notícia de algum caso extraconjugal dele? Não tem. Como se segue uma linha sem indícios?

RJ – Ele cita também a amizade de Valério com Davi Sebba, o advogado morto pela Polícia Militar (PM) no estacionamento do Carrefour, no ano passado. E que isso também não foi investigado. Isso é verdade?
A polícia mandou oficio para a Polícia Federal perguntando se existia alguma investigação envolvendo Valério com o Davi Sebba. A resposta foi que não tem. Aí, ele fala que não investigaram a relação do Valério com o Davi Sebba. Investigaram sim. Tem o documento da Polícia Federal nos autos do processo dizendo que não tem relação nenhuma. O inquérito do Davi Sebba acabou de ser concluído e não mostra relação nenhuma dos dois. Eles nem se conheciam.

RJ – O Maurício fala que a mulher de Valério teria ido algumas vezes a seu cartório, sendo que ele teria ligado para intermediar alguns registros dela. Isso é verdade? Ela realmente frequentava esse cartório? 
O cartório não é público? Ela tem todo o direito de frequentar. Quero saber se depois do crime ela continuou a ir ao cartório. Eu acredito que ela não tenha ido. Mas antes era normal. Lá é um órgão público. Outra coisa, ele como dirigente de futebol tinha um interesse enorme em fazer favor para a mulher do Valério, na tentativa de amanhã pedir um favor para o Valério em termos de comentários e informação. Mas ele não iria levar, porque o Valério não iria atendê-lo.

RJ – Ele admitiu que conhecia algumas das pessoas envolvidas na morte do Valério. Mas disse que o Urbano morava naquela área de favor e que o da Silva ia sempre aos jogos com ele, mas não seria um segurança. O que o senhor acha disso?
Que coincidência. Tudo isso que eu falei a respeito dele e do Valério, os atritos. O Valério denunciou uso de cocaína no Atlético e foi processado pela denúncia. Depois, foi provado que tinha realmente. Aí, presta bem atenção. Ele, Maurício Sampaio, quem era o segurança dele? O da Silva. O outro segurança: Figueiredo. Quem era Urbano? Era um funcionário ou sócio dele, uma pessoa ligada a ele. Onde esse Urbano morava? Morava em uma casa dele. Onde é essa casa dele? É ao lado da Rádio Jornal. Onde foi o assassinato? Ao lado da Rádio Jornal. Esse Urbano estava lá, na hora do assassinato. Ele foi visto lá.

RJ – O Maurício Sampaio alega que este imóvel, aonde o Urbano foi morar, ele comprou muito antes desse entrevero.
Pode ter comprado antes, mas o Urbano foi morar lá três meses antes do crime. O Urbano morava em outro setor, muito longe.

RJ – O senhor acredita que foi nesse período que foi planejada a morte? Ou foi só depois da frase que foi dita pelo Valério?
Já estavam tramando antes. O Urbano mudo-se para essa casa para ficar monitorando o Valério. Ele (o Urbano) já tinha negócios com o Maurício há muito tempo. Trocava cheques com ele e tinha um negócio de transporte de areia. Por que justamente logo antes do crime houve a necessidade de alguém olhar as piscinas? O Urbano mudou para lá pouco antes do crime. Outro detalhe, ele diz que o da Silva não era segurança dele e que não recebia nada, mas os filhos do da Silva estudam de graça na escola do Maurício Sampaio, que chama Educandário Goiás.

RJ – Então houve um monitoramento?
Com certeza. E por que ele foi executado na porta da Rádio Jornal? Poderia ter sido na porta do Serra Dourada, à noite, na porta da casa dele, no Jardim América, que é escuro. Por que eles fizeram naquele local? Porque eles tinham essa facilidade. E o rastreamento dos telefones? Antes, no dia e depois do crime, que está no inquérito. Telefonemas entre o Urbano, da Silva e outros mais. Tem ainda o telefone que o Urbano pegou para fazer esse tipo de transação. O celular foi habilitado com o CPF de uma mulher que deu um cheque a ele. As linhas foram habilitadas dois dias antes do crime. Esse telefone estava sendo usado no monitoramento e nas conversas. Isso está no inquérito.

RJ – O Maurício fala que não tem nenhuma prova contra ele.
Se isso tudo não for prova, o que é? Será possível que isso tudo é coincidência?

RJ – Ele alega que essa vontade de solucionar rapidamente o caso e dar uma resposta para a família e para a sociedade, teria resultado em uma pressão em cima da Polícia Civil para que se encontrasse um culpado. Diz que ele seria um bode expiatório. O que o senhor acha?
Não tem nada disso. Eu acompanhei a investigação desde o primeiro dia. Foi feita uma investigação minuciosa. A polícia já sabia de tudo isso uns dois, três meses antes de concluir o inquérito. Mas, como não tinha provas consistentes, não foi concluído. Foi envolvida a polícia científica, um trabalho espetacular. Um trabalho de campo da Polícia Civil excelente. Acompanhei isso tudo de perto. Inclusive, eu usava a tática de dizer que eu não sabia de nada e que a polícia não sabia de nada. Mas nós sabíamos que tudo caminhava para ele. A polícia investigou tudo sobre a vida do Valério.

RJ – Ele diz que, em um jogo da Associação dos Cronistas, o Valério agrediu um coronel. O senhor tinha conhecimento disso?
Nós não sabíamos dessa agressão. Mas em futebol isso pode acontecer. É normal. Lá o cara não é coronel, ele é cara que está jogando pelada. Eu não sabia, estou sabendo disso agora. Quero ir atrás dele (do coronel) para saber se isso é verdade. Porque estou duvidando se isso é verdade.

RJ – Ele fala que não acredita que será condenado, porque se diz inocente. O senhor acredita na condenação dele?
Eu nunca vi um assassino, um mandante de crime que diz que não é inocente. Ele não é diferente dos outros. Agora, o que está acontecendo, e que nos preocupa muito, é a influência do poder econômico. Desde o primeiro dia em que ele depôs, foi junto com ele três advogados, sendo dois ex-desembargadores, que permanecem com ele até hoje. Advogados caríssimos. E nada me diz que esses ex-desembargadores estão ajudando ele simplesmente porque são amigos ou devem favor para ele. Só se for isso. Somente quem está acompanhando tudo sabe. Por que uns condenam e outros soltam? Por que eles criaram esse fato de o delegado (Manoel Borges) ter de ouvir de novo o Marquinhos. É para que ele falasse tudo de acordo com o que eles queriam.

RJ – Qual o sentimento da família em ver os acusados soltos?
Vou só dar um exemplo. Essa semana surgiu um boato de que eu havia sofrido um acidente. Quando cheguei em casa, minha família estava desesperada. Presta atenção. Por que três caras chegam na porta do meu clube, atiram para todos os lados e não roubam nada? Eu nunca tinha sido assaltado antes do crime. Às 6h30, na porta da padaria, o cara aponta a arma para mim e leva meu carro. Durante a madrugada o carro foi abandonado e não levaram nada. Isso tudo só pode ser para me intimidar. Como que é que se vive com essas pessoas soltas? Se eles tiveram coragem de fazer o que fizeram como o Valério, eles podem fazer comigo. E só acho que as pessoas fazem essas coisas na certeza da impunidade. Contratam advogados caríssimos porque eles sabem os caminhos das pedras, para resolver os problemas fora da lei. Não se muda a lei porque os quatro maiores poderes do Brasil, ou seja, executivo, legislativo, judiciário e econômico, não têm interesse que ela mude. As cadeias estão lotadas, mas não se acha lá ninguém desses poderes preso. Então, vamos estar sempre a mercê da impunidade.

RJ – Agora, nessa fase processual, dificilmente o Maurício volta a ser preso. Ele deve ficar solto até o trânsito em julgado dessa decisão? Tem algum pedido nesse sentido?
Sim. O Ministério Público já entrou com pedido nos autos, que é chamado de recurso em sentido estrito, para o Tribunal de Justiça prender todos de novo. Estamos esperando só a publicação do HC que liberou o Maurício Sampaio para podermos recorrer, pois ele foi liberado com base em um depoimento que a Polícia Civil declarou nulo e que a própria polícia disse que foi forjado, tanto que afastou o delegado. Uma coisa que revolta a gente é que, em seu segundo depoimento, o Marquinhos disse que seu contato era com o da Silva e com o Urbano. Afirmou que os outros diziam que tudo aquilo estava sendo tramado era a pedido do patrão deles, que é o Maurício. Mas o Marquinhos não disse que tinha contato com o Maurício Sampaio. Já no terceiro depoimento, quando perguntaram especificamente se ele conhecia o Maurício, ele disse não. Aí, pegaram esse depoimento e entraram com o HC. A rigor, esse depoimento não tinha diferença do segundo. Não tinha fato novo. Agora os desembargadores não tiveram a capacidade, ou interesse, de comparar os depoimentos. Esse HC foi um absurdo jurídico.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Comentarios Recentes

          1. Desculpem-me, mas existia um video no youtube, onde o Mauricio fala sobre o assunto, mas parece que foi retirado do site.

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