Técnico do Bahia Falcão diz que não sente falta da televisão

“A única coisa que eu preferia estando lá é a visão da cabine, que é melhor para ver o jogo. O resto aqui é melhor”. Assim, Paulo Roberto Falcão, técnico do Bahia e ex-comentarista da TV Globo, responde sobre em qual função prefere estar. Há pouco mais de um ano de volta ao banco de reservas, o treinador diz não sentir saudades da vida de comentarista.

Em entrevista ao iG, o treinador falou sobre o trabalho no Bahia, campeão estadual no primeiro semestre e disputando a série A do Brasileiro. “Ainda não posso dizer, onde o Bahia poderá chegar, mas, é claro, que o Brasileiro é bem mais difícil que o Baiano”, diz.

A saída traumática do Internacional, em 2011, quando foi demitido após se desentender com o presidente do clube ainda o incomoda. O técnico, ídolo colorado como jogador, prefere não falar sobre o assunto. “Já falei o que tinha que falar”.

Falcão revelou que um dos motivos da sua saída da seleção brasileira foi um pedido do então presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira. O cartola exigiu ver a lista de convocados, sempre, 72 horas antes da divulgação. O técnico diz que não aceitou e acabou deixando a seleção em 1991.

Confira a entrevista de Paulo Roberto Falcão:

iG: Qual o objetivo do Bahia no Brasileiro. Dá para ser campeão?
Falcão: O pensamente geral entre os técnicos é chegar na Libertadores. Eu penso um pouquinho diferente. Alguns times tem que pensar primeiro no título. Se não der, bom, ai vamos pensar na Libertadores. Mas é uma maneira de tirar a pressão. Eu não sei ainda onde o Bahia pode chegar. Nós temos muitos jogadores machucados e temos que contratar. Temos que ter mais número. Precisamos de jogadores que cheguem para ser titular. Nós tínhamos três laterais esquerdos e de um dia para o outro não tínhamos mais nenhum. Os três se machucaram. Só isso já justifica que precisamos de reforços. O campeonato é longo e lesões acontecem. Neste momento eu não posso dizer o que o Bahia estará disputando.

iG: É um choque de realidade sair do Estadual e enfrentar os melhores times do Brasil?
Falcão: Não sei, é claro que o Brasileiro é mais difícil que os estaduais. Você joga com os melhores do Brasil. É mais difícil…

iG: Muito se fala da torcida do Bahia, que apoia muito o time apesar da falta de conquistas recentes. A torcida é tudo isso que se fala?
Falcão: O torcedor do Bahia é exigente. Ficou muito feliz com a conquista do título. Lota estádio, canta, incentiva, tem um grito forte. Dá ao time uma força. Mas ela cobra.

iG: Você estudava mais, via mais jogos enquanto era comentarista de TV ou agora como técnico?
Falcão: Muda porque hoje eu vou mais no detalhe. Como comentarista, eu procurava dar a visão de algo que observava e imaginava que o telespectador não estivesse vendo. Mas não tem como ver todos os jogos. São muito, né? (risos) Você tem que ver os jogos que te interessam. Quando eu era comentarista eu via menos jogos, mas via para comentar era mais fácil. Hoje eu vejo jogadas. Quando um time vai jogar contra o Bahia, eu vejo nos detalhes, jogadas ensaiadas, criteriosamente.

iG: Era mais fácil ser comentarista? Sente saudades?
Falcão: A única saudade que eu tenho da cabine é que lá de cima você vê o jogo melhor, uma visão melhor. Mas no campo você está mais perto do jogador. É mais fácil, claro, evidente, sem comparação. Embora eu tinha uma baita responsabilidade, porque eu trabalhava na maior emissora do país. A minha crítica não era uma crítica com ódio era uma crítica com carinho, criteriosa. Até porque eu tinha jogado bola. Eu não poderia ser desleal e cobrar alguma coisa dos jogadores que eu sabia que eles não poderiam dar. É muito fácil eu falar que tem que fazer isso, aquilo, mesmo sabendo que o treinador não pode fazer porque não tem a peça adequada. Sempre tive cuidado com isso.

iG: Você algum time favorito para ganhar o Campeonato Brasileiro?
Falcão: Não tem favoritos, difícil. Não dá para arriscar, apontar favoritos.

iG: Como você está vendo o trabalho do Mano Menezes na seleção brasileira?
Falcão: Eu acho uma coisa velha essas críticas que ele sofre. As pessoas cobram criatividade dos times, dos treinadores e fazem o mesmo, essa cobrança velha, antiga. Sempre cobrando resultado, resultado. Tem que ver o trabalho. Eu confio no Mano. Às vezes muita pressão faz o técnico não ter o discernimento correto. Não é o caso do Mano. Ele ta bem, gosto das entrevistas, acho que ele monta bem os seus times. Acho que até a Copa das Confederações ele vai montar um time para a Copa. Tem que deixar ele trabalhar com mais calma.

iG: Se falou muito do anúncio do Marin, que pediu a escalação 48 horas antes da divulgação. Quando você foi técnico, ainda na gestão do Ricardo Teixeira, isso existia?
Falcão
: Quando fui negociar a renovação, em 1991, queriam que eu enviasse a lista de convocados para o presidente 72 horas antes da divulgação. Eu sempre fiz assim: no dia que eu ia dar a lista, de manha eu mostrava a lista para o Ricardo Teixeira. Ele nunca deu nenhum tipo de palpite. Mostrava para ele por hierarquia. Mas ele nunca me deu um palpite. Mostrava no dia da convocação. Para continuar havia essa mudança e não topei. Tiveram outras três coisas que não deram certo.

iG: O que você acha da geração atual da seleção?
Falcão
: É boa, jovem, mas boa. Eu confio no trabalho do Mano. Acho que até a Copa das Confederações ele vai formar um time.

iG: Muito se fala sobre o Neymar jogar fora no Brasil. Você acha que seria melhor para e para a seleção?
Falcão
: Eu acho que para ele, para o crescimento tático, seria interessante um ano antes da Copa ele jogar na Europa. Essa é a minha opinião. Eu respeito todas as outras e não brigo com quem pensa diferente. Eu acho que seria interessante para o bem dele e da seleção. Acho que o mais importante é que ele seja feliz. E ele está feliz. Poderia dar um upgrade ir para a Europa. Mas o mais importante é a felicidade dele. Se ele está feliz aqui, melhor ficar mesmo.

iG: Você teve uma saída conturbada do Internacional. Um ano depois, como vê tudo aquilo que aconteceu?
Falcão: Sobre o Inter, eu já falei demais, não gostaria de falar mais. Já passou o tempo. As pessoas objetivas, que lidaram as coisas, sabem exatamente o que aconteceu, quem levou para o lado passional. Não quero mais falar sobre isso.

 

 

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