Disputa de audiência entre Globo e Record completa seis anos

Na última semana, os noticiários da Record gastaram munição em ataque direto ao presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, com acusações de corrupção.
O momento “denúncia” é visto pelo mercado como novo bombardeio da rede na guerra da audiência. Isso porque a Globo ganhou a disputa pela transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol (2012).

Mesmo com a proposta milionária da Record e com a licitação vencida pela Rede TV!, a Globo negociou o Brasileirão por fora, com cada um dos times que compõem o Clube dos 13, e ganhou. Esse é mais um capítulo dessa guerra fria, de troca de acusações, que esquenta com ataques pontuais.

“Foi em 2005 que decidimos enfrentar o leão de frente. Não havia alternativa”, fala o vice-presidente comercial da Record, Walter Zagari. “O segundo lugar é o primeiro dos perdedores. Por isso queremos a liderança.”

É com esse discurso, rufando tambores a cada passo avançado, e com uma estratégia de clonagem que a Record tenta invadir o território inimigo há seis anos.

CLONAGEM

Em 2005, a rede resolveu copiar descaradamente modelos de sucesso da Globo.

Roubou profissionais da concorrente com propostas que triplicavam salários já altos de artistas, autores e jornalistas.

Xerocou formatos, como o do “Fantástico”, que virou “Domingo Espetacular” na Record, e criou um “Jornal da Record” tão semelhante ao “Jornal Nacional” que chegava a confundir o telespectador. Por fim, criou identidade visual de inspiração global.

“Nossa audiência cresceu muito em cinco anos.Tínhamos 10% do tamanho deles, hoje temos quase 50% da audiência nacional”, diz Zagari, que planeja encostar na Globo em, no máximo, quatro anos. Só que ele dizia, já em 2005, que a Record seria líder em 2010.

Nesses anos, o cenário de audiência realmente mudou, mas a Record ainda não tombou a fortaleza da Globo.

NÚMEROS

Em 2005, no início da guerra pela audiência, a média/dia (das 7h à meia-noite) da Globo era de 21 pontos –cada ponto equivale a 58 mil domicílios na Grande São Paulo. Passou para 16,5 pontos em 2010 e 16,3 pontos neste ano (de janeiro a maio).

A Record foi de cinco pontos (2005) para 7,4 pontos em 2010. Neste ano, de janeiro a maio, marcou média de 7,3 pontos. Já o SBT, que era o segundo lugar absoluto em audiência cinco anos atrás, caiu de nove pontos (2005) para 5,5 pontos (2011).

“Não há mudança de audiência consistente se observarmos um período maior. Em 2000, a Globo tinha média/dia de 21 pontos, sendo a soma da segunda e da terceira emissoras não superior a 13 pontos”, diz o diretor da Central Globo de Comunicação, Luiz Erlanger.

Segundo ele, nada mudou: em maio de 2011, as duas concorrentes somam os mesmos 13 pontos, enquanto a Globo caiu para 18.

Na Globo, assim como no Ibope, a queda é atribuída à perda de público para outros canais: TV paga e televisores ligados em videogames –que compõem a sigla OCN nas medições de audiência.

A Record segue com a bandeira de que a Globo está perdendo audiência. Já a líder diz que a Record estagnou, não passa dos sete pontos de média/dia desde 2008.

Para a Globo, os constantes ataques públicos da concorrência são normais, bem como a migração de profissionais entre emissoras.

“Que talentos conseguiram mais que 15 pontos de audiência na concorrência?”, diz Erlanger. Este é o pico de audiência obtida por “O Melhor do Brasil”, programa de Rodrigo Faro, ex-Globo, hoje na Record.

Já Zagari, que foi diretor comercial do SBT, vê em Edir Macedo uma iniciativa que Silvio Santos não tinha.

“Quando o SBT era o segundo, havia um certo conformismo, achavam impossível bater a Globo.”

DUOPÓLIO

Para o sociólogo e professor de comunicação da USP Laurindo Leal Filho, não há como reverter essa relação agressiva entre as redes.

“É um ponto de honra para Edir Macedo atingir a Globo, por conta das denúncias que a rede fez contra ele.”

Tanto Leal Filho como o jornalista Eugênio Bucci, crítico de TV, consideram a disputa entre as duas emissoras saudável para o mercado.

“A disputa deve servir para chamar a atenção da sociedade para o risco tanto de modelos de monopólio como da mistura de radiodifusão com religião”, diz Bucci.

Laurindo Leal Filho avalia que a disputa irá empurrar a TV aberta para um duopólio. “Em alguns anos, a Record vai encostar na Globo, e as duas vão dividir a audiência e o faturamento. Outras redes ficarão marginalizadas.”

 

Folha.com

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