“Tiago Leifert não passa de um bonequinho, faz coisas que eu fazia em 2000”, diz Jorge Kajuru, aos 35 anos de carreira

O radialista e apresentador esportivo Jorge Kajuru, durante entrevista em restaurante no bairro de Botafogo, na zona sul do Rio, na tarde de sexta-feira (15/4/2011) Fernando Rabelo/UOL
Para o radialista e apresentador Jorge Kajuru, 50 anos, foi Deus quem atendeu ao pedido que fez para morar no Rio de Janeiro, após uma série de cirurgias que o debilitaram fisicamente. Já estabelecido na cidade, Kajuru concedeu uma entrevista ao UOL, no dia em que completou 35 anos de carreira. O encontro foi marcado em um restaurante de culinária japonesa, no alto de um shopping em Botafogo, que dá vista para o Pão de Açúcar, um dos cartões postais cariocas.
“Sempre venho aqui depois das gravações”, conta Kajuru, que atualmente apresenta o programa “Kajuru Sob Controle”, da TV Esporte Interativo, que tem estúdios no mesmo bairro. Na mesa, o jornalista pede ao garçom um drinque de maracujá com vodca e diz que “o bom do Rio é que dá para beber a qualquer hora”, apesar de quase não tocar na bebida durante as duas horas de entrevista.
No meio da conversa, o jornalista pede cinco minutos de intervalo para gravar, dali mesmo, o boletim diário “Kajuru Sem Controle”, para as rádios da Rede Vitoriosa, de Uberlândia (MG). O daquele dia tratou de efemérides como o aniversário de Claudia Cardinale e a suposta abstinência sexual de Alexandre Pato. “Rádio é bom, porque em rádio você pode falar o que quiser”, comenta.
Kajuru – que adotou o nome da cidade em que nasceu, após um conselho de Osmar Santos, em 1978 – comentou sobre a vida nova que está construindo na cidade, os problemas que enfrentou após a cirurgia que controla o diabetes e o desejo de voltar à TV em rede nacional. E, para não perder o hábito, “cutucou” alguns colegas de profissão, a CBF e o jogador Ronaldo.

UOL – Nesses 35 anos de jornalismo, do que você mais se orgulha?

Jorge Kajuru – O meu maior orgulho foi nunca ter usado teleprompter. Mesmo antes de perder a visão – agora tenho só 12% de visão do olho esquerdo e, no direito, tive um deslocamento de retina – sempre tive problema com miopia e astigmatismo. Me acostumei a não usar o teleprompter. Decoro texto na hora, cinco minutos antes de gravar o programa. Fiz isso em todas as emissoras por que passei – Band, Rede TV, SBT e Record. Os caras ficavam impressionados, riam e a gente apostava uma caixa de cerveja. “Se vc errar hoje, você paga”. Estão esperando até hoje. Já paguei cerveja como amigo, mas perder a aposta nunca perdi. Sou limitado, tenho vários erros como profissional, mas isso aí, modéstia à parte, vou morrer sendo exemplo. Silvio Santos não erra, e eu tb não. Na TV brasileira, segundo a equipe técnica do SBT, só existem dois apresentadores que podem gravar oito programas por dia sem errar. O Silvio, naturalmente, e eu.
UOL – Como foi o início?
Jorge Kajuru – Com 15 anos de idade já tinha carteira profissional assinada, na época em que trabalhei na TV Unaerp e Rádio Renascença, em Ribeirão Preto. Conheci o Datena lá. Com 16 anos, fui a Belo Horizonte, ser jurado do Flavio Cavalcanti, o único jurado juvenil do programa dele, na época em que deixou São Paulo, por conta da censura. Flávio era um gênio, disparado. Então fiz TV local até chegar à TV Alterosa, que era uma TV estadual, em 1981.

UOL – Agora você trabalha na internet. É a mesma coisa que trabalhar para a TV?
Jorge Kajuru – Para mim é. Eu adoro desafio, sou pioneiro. Fui o primeiro jornalista esportivo a ter TV própria na internet. Ousei, comprei equipamento, montei estúdio em Ribeirão Preto. Na TV Kajuru, tive um ano de glória, com 13 milhões de acessos. Mesmo hospitalizado, consegui gravar para a internet. Pagava um cara para ir até a clínica, me filmar lá.
Essa pesquisa me dá orgulho, porque estou fora da mídia nacional há 6 anos, e apareço empatado tecnicamente com Tiago Leifert, o novo queridinho do jornalismo esportivo, que está na Globo e não passa de um bonequinho
Kajuru, sobre uma enquete do UOL
UOL – Você aparece em 3º lugar em uma enquete do UOL sobre os piores apresentadores esportivos…
Jorge Kajuru – Essa pesquisa me dá orgulho, porque estou fora da mídia nacional há seis anos, e apareço empatado tecnicamente com Tiago Leifert, o novo queridinho do jornalismo esportivo, que está na Globo e não passa de um bonequinho. Faz coisas que eu fazia anos atrás. Tanto que o Marco Mora, diretor da Globo, pediu para o Tiago ver os meus vídeos e para que ele me imitasse. Porque aquele negócio do ponto que ele faz, eu fazia em 2000, na Rede TV, e em 2002, na Band. Eu chamava o ponto de “voz da consciência”, eu chamava o ponto de “comentarista do ponto”, chutava o ponto eletrônico, eu tirava o ponto e xingava o ponto de imbecil, de inútil, eu sentava, cruzava as pernas, deitava no chão do estúdio… Isso em 2000, mas tem gente que acha que isso é novidade. Acham que a ideia do bola cheia/bola murcha é do Tadeu Schmidt, mas é só pegar um vídeo meu, da Rede TV, que mostra quem fez primeiro o bola cheia/bola murcha.
UOL – Você diz que está fora da mídia, mas apresenta um programa na TV Esporte Interativo…
Jorge Kajuru – Não estou no ar, você não me vê. Esporte Interativo só chega por parabólica ou UHF em SP, não é o mesmo público que assiste ao Tiago Leifert, Milton Neves, Galvão Bueno… Essa pesquisa atrai o desafeto, quem você xingou, quem você agrediu. Eu só tenho 7% de rejeição do público. Quem deve se preocupar é o Milton Neves, com quase 35% de rejeição e o Galvão, com 18%. O Milton Neves é o pior apresentador esportivo da TV porque é o mais mentiroso, mais falso, mais arrogante. Ele tem certeza que é deus. O dinheiro mudou a vida dele, ele não sabe que feliz é o pobre sem a amargura, e o rico sem a soberba. Ele é odiado em Muzambinho e tem que andar com carro blindado por lá. Para que andar com segurança na sua própria cidade?
UOL – Em outra enquete do UOL, sobre os apresentadores esportivos mais legais, você está em sétimo lugar, atrás de Leifert, Renata Fan, Tadeu Schmidt, Flavio Prado, Milton Neves e Glenda Kozlowski.
Jorge Kajuru – Esse tipo de pesquisa não vale absolutamente nada, quem tem mais computador que leva. Eu não pedi para ninguém votar em mim. Dos nomes que você citou, respeito muito a Glenda Kozlowski. Proponho um desafio público ao UOL, que seja feita uma enquete sobre o apresentador esportivo que o público tem mais saudade. Se o Kajuru não for o primeiro colocado, eu encerro minha carreira.
UOL – Voltaria a fazer TV?
Jorge Kajuru – Só se fosse para fazer um programa diferente, tipo talk show, em rede nacional. Do contrário, fico na Esporte Interativo, onde sou bem tratado, respeitado e onde faço esporte me divertindo, com bom humor. Falar de esporte em rede nacional sobre esses bandidos, essa quadrilha, não adianta. Em um mês sou demitido. Eles são fortes, tem patrocinadores, é um cartel, os cartolas vão me tirar do ar.
UOL – Você trabalhou em todas as emissoras, menos na Globo, por quê?
Jorge Kajuru – Porque não quis, aliás, e nem trabalharia. Em fevereiro de 2003, cheguei a receber o convite e disse não. Galvão Bueno, que é meu amigo, meu irmão, foi meu sócio em Goiás, quis me levar para a Globo. Durante um mês, conversei com os diretores de esporte da Globo, Luis Fernando Lima e Marco Mora, mas eles foram muito honestos comigo e me falaram as condições para trabalhar lá. Não posso reclamar disso. Na Globo, não poderia falar isso, isso e aquilo. Aí eu disse não.

UOL – Você pensa antes de falar?
Jorge Kajuru – Como já disse ao Silvio no programa “Nada Além da Verdade”, em que eu fui um dos únicos a vencer e ganhar o prêmio de R$ 100 mil, eu não penso antes de falar. Se você pensar, você não fala. Odeio o politicamente correto, pensamento único, algo me contraria desde menino. Comecei a ler Baruch Spinoza aos 9 anos de idade, Pablo Neruda, aos 8, sou apaixonado por Che Guevara desde os 7. Minha mãe me deu esse presente, só me dava livro quando criança. Ela era uma merendeira de grupo escolar, que ganhava um salário mínimo, que me criou com livros, sem nunca passar fome. Drummond dizia que as mães não deveriam morrer, mas eu discordo, elas não morrem.

UOL – Acredita em vida após a morte?

Jorge Kajuru – Sou muito ligado ao espiritismo, fui ao Chico Xavier muitas vezes. Sou “Ele Futebol Clube”, não sei quem é ele, mas sei se o nome dele é Deus, que tem um cara superior a mim, que, se esse babaca aqui existe, existe um ser superior.

UOL – Nessa vida de mudanças, já tinha vindo parar no Rio antes?
Jorge Kajuru – Minha vida é de andarilho. Já morei aqui duas vezes. A primeira em 1983, para transmissão de jogos noturnos aos finais de semana, na época da loteria esportiva, pelo rádio. Na época, o rádio era forte, a televisão ainda não tinha acabado com o rádio. E também fiquei um ano por aqui, quando montei o departamento de esportes do SBT, em 1986. Me apaixonei por esse lugar, meu sonho era morar aqui, morrer aqui.

UOL – De onde partiu o convite para trabalhar aqui?

Jorge Kajuru – Primeiro, pedi a Deus. Toda noite eu rezo antes de dormir para ele e, ano passado, no período em que estava muito doente e parado, sem trabalho, embora meu contrato com o SBT estive em vigência, resolvi pedir para ele para vir morar no Rio. Já tive momentos em que fui ateu, de ceticismo total. Desculpe a petulância, a arrogância, isso é coisa para o Galvão Bueno pedir, para o Milton Neves pedir, mas eu pedi. “Mostra que realmente eu tenho uma chance de ser feliz”.
O ex-jogador Sócrates, que também é médico, viu o tamanho do abscesso que tinha, lá atrás, no ânus, do tamanho de uma lata de cerveja, e disse que deveria ser operado logo, senão morreria
Kajuru, sobre a cirurgia na próstata

UOL – O que deu errado, que fez você parar de novo no ano passado?
Jorge Kajuru – Eu vim pra cá em janeiro de 2010, por conta da TV Esporte Interativo, que tem sede aqui. Fiquei aqui de janeiro a abril, quando os médicos me orientaram a parar, que eu teria problema, estava muito magro. Cheguei a pesar 62 quilos, pra quem já pesou 128… No dia 4 de novembro de 2009, fiz aquela cirurgia bariátrica, a mesma do Faustão.

UOL – A cirurgia que foi proibida pelo Conselho Regional de Medicina?
Jorge Kajuru – Exatamente. Mas que laboratório quer o fim dos diabéticos? Em nenhum lugar do mundo querem isso. Um diabético gasta em média, nos EUA, 3 mil dólares. Tem que tomar Glifage, Amaryl, ou insulina…

UOL – Mas você ficou mal depois desta cirurgia?

Jorge Kajuru – O problema não foi essa cirurgia, é que em um período de poucos meses eu me submeti a três tratamentos, o que me levou pro chão. E eu tenho transtorno bipolar, descoberto em 2006. Desde então, não paro de tomar remédios. São cinco carbolitium por dia, 450 mg, uma porrada, mas é o que me controla. Porque o transtorno é da euforia à depressão. Euforia de querer pagar um carro para alguém que acabou de conhecer e nem ter dinheiro para isso, depois eu vejo, até a depressão, que é diferente de tristeza. Já fiquei isolado em um quarto escuro passando bilhetinho para minha empregada por debaixo da porta. Assim fiquei por oito meses. Primeiro tive uma bactéria, staphylococcus aureus, que pode gerar uma síndrome (de Fournier), que em cada 10 casos morrem 9. Como minha taxa de glicemia estava a 430, médicos jovens não queriam me operar. Estava medicado só com antibióticos, achavam que assim eu curaria. Mas o ex-jogador Sócrates, que também é médico, viu o tamanho do abscesso que tinha, lá atrás, no ânus, do tamanho de uma lata de cerveja, e disse que eu deveria ser operado logo, senão morreria. Quem me operou foi a dra. Angelita Gama, que é craque na área. Aí vieram as consequências: iria demorar para ter uma ereção novamente, segunda, perdi esperma, virou ‘pingo de criança’, e terceiro, que eu estava apaixonado, pronto para ter filho com a minha mulher na ocasião, e teria que fazer um tratamento por quatro anos se quisesse ter filhos.

UOL – Quer ter filhos?
Jorge Kajuru – A única coisa boa da próstata para mim foi isso: não posso ter filho. Penso como Paulo Francis, não tenho o direito de deixar esse legado para ninguém. Prefiro não ter filhos. E minha mulher atual tem a mesma opinião. A gente ama ler, cozinhar, ir a shows. Nós nos bastamos.

UOL – A próstata não foi seu único problema…
Jorge Kajuru – Um mês depois (da cirurgia da próstata), veio o deslocamento de retina. Fui até a Houston, mas de lá me mandaram para o melhor do mundo, em Belo Horizonte, dr. Roberto Abdalla. Cheguei a apresentar no SBT um programa com tampão no olho. Agora estou com prótese, que foi indicada pelo repórter do “Big Brother Brasil”, o Vinícius Valverde, que também usa uma.

UOL – E a redução do estômago?

Jorge Kajuru – Foi nesse momento, em novembro de 2009, depois da próstata e do olho f..,. que o médico goiano Áureo Ludovico falou para fazer a cirurgia. Fui lá fazer a cirurgia de redução do estômago e do diabetes, que coloca o íleo em outra posição, para produzir insulina. Um mês depois, precisamente dia 3 de dezembro, o CRM proibiu a cirurgia. Fiquei louco, pensei que ia morrer. Liguei para o médico, que pediu calma. Eu fui definhando, tinha que ser carregado para caminhar. Estava me alimentando só pelo canudinho – depois de três meses que fui comer um purê de batata. A sorte minha é que vi o Faustão emagrecendo também. Uma semana depois, fiz o pedido para vir morar no Rio e uma semana depois recebi o convite da TV Esporte Interativo. Mesmo internado, tive que aceitar. Foi o que Deus me deu de presente, achava que a praia ia me curar.

UOL – Pediu para sair do SBT?

Jorge Kajuru – Estava há 4 anos transmitindo o “Kajuru na Área” pelo SBT para o interior de SP, só que não conseguia gravar, um programa para 12 milhões de habitantes. Não podia transmitir assim tão debilitado, despreparado, sem tesão para acompanhar o futebol. O SBT foi gentilíssimo, sugeriu que as gravações fossem na minha casa. Eu tentei gravar, mas não dava conta dos 15 minutos, não tinha fôlego para falar sozinho. Então escrevi para o Silvio, estava ridículo no ar, não podia continuar assim com ele e com o público dele. Guilherme Stoliar, o sobrinho do Silvio, foi gentilíssimo, disse que podia continuar no ar, mas eu sabia que estava ridículo. Minha empregada, que é muito franca, disse para mim que andavam dizendo por aí que eu não estava mais falando coisa com coisa no ar. Também não queria trabalhar com jornalismo, porque, na ocasião, a direção do jornalismo do SBT estava com Luiz Gonzaga Mineiro, uma pessoa que eu abomino, execrável (foi trocado recentemente pelo Villas, muito bom). Então eu pedi ao Silvio um ‘até breve’, para me demitir ou dar uma chance de fazer algo diferente. Ele não me demitiu, meu contrato está vigente até hoje.

UOL – O que pediu para o Silvio?

Jorge Kajuru – Eu queria fazer um programa de entrevistas ou um talk show. Já tinha experimentado esse formato antes, na TV Alphaville: eu no centro, como entrevistado, com uma plateia pequena de universitários e nenhum saia de lá sem resposta. Já fiz o “Fora do Ar”, um programa delicioso, com Hebe, Galisteu e Cacá Rosset, que chegou a empatar em audiência com o Jô. A Hebe, minha madrinha querida, que exigiu que eu estivesse no programa. Eu escrevia e dirigia o programa, que foi ao ar bem na época do mensalão, era pau direto contra o Lula e em todo mundo… Imagina a Hebe, malufista, eu tinha que editar tudo. O programa só acabou porque rolou ciúmes da Galisteu, o Silvio sugeriu Astrid Fontenelle para o lugar e aí a Hebe não quis ficar, já que o formato teria sido pensado pela Galisteu. Também sugeri um programa de auditório ou ser jurado dele, já que já tinha sido jurado dele antes, e de Flavio Cavalcanti também.

UOL – Por que sugeriu um formato novo ao SBT?
Jorge Kajuru – Estava de saco cheio do futebol. Ficar falando desses caras, que eles são ladrões, não adianta nada, não vai mudar nada.

UOL – E depois de dar esse até breve ao SBT?
Jorge Kajuru – Aí fui embora para Goiânia, para ficar 8 meses internado. Mas fiz a burrice de aceitar a proposta da Esporte Interativo, achando que poderia pegar um avião e gravar uma vez por semana, sem problema para o meu tratamento. Eu vinha uma vez por semana, ficava em um hotel, gravava os cinco programas, três em um dia, dois em outro, depois voltava para a clínica. Melissa Garcia (com quem divide o “Kajuru Sob Controle”) sempre foi muito gentil, me acompanhava, inclusive na rua, já que tenho dificuldade para enxergar.

UOL – Você aceitou a proposta (do Esporte Interativo) por dificuldades financeiras?
Jorge Kajuru – Não, o que me pagavam era ridículo. Eu posso te falar, eram R$ 3,5 mil, não custeava nem a viagem, meus gastos aqui. Só me pagava a passagem aérea.

Eu, sozinho, sou um perigo. Se fosse dono de uma televisão, eu não me colocaria ao vivo, sou completamente desequilibrado

Kajuru, sobre não ter papas na língua

UOL – Mas você não queria parar de falar sobre futebol?

Jorge Kajuru – Era um formato diferente, que eu toparia fazer se voltasse a falar de futebol em rede nacional hoje, com uma mulher (Melissa Garcia) – que não é maria chuteira, coisa que a TV está cheia – do meu lado, a me controlar, para não deixar eu passar para a segunda página. Eu, sozinho, sou um perigo. Se fosse dono de uma televisão, eu não me colocaria ao vivo, sou completamente desequilibrado.

UOL – Aí você ficou doente de novo.
Jorge Kajuru – Foi, e assim como no SBT, o pessoal do Esporte Interativo não teve coragem de me demitir e de me dizer que estava sem condições. Eles não me liberaram, mas eu me demiti. Em abril, voltei para Goiânia e só sai de lá em novembro, quando me chamaram de novo e recomecei no dia 13 de dezembro de 2010.

UOL – Por que o Rio?
Jorge Kajuru – Desde menino sou apaixonado pela música, pela bossa nova. O primeiro a me embalar por esse encanto pelo Rio foi o Vinícius, depois o Tom Jobim, e depois o Ivan Lins, que virou meu padrinho de casamento e é meu amigo há 30 anos. Fui conhecendo cariocas imperdíveis. Acho uma sacanagem quando dizem – e já ouvi isso em Goiás, em Minas, em São Paulo – dizendo que carioca é malandro. Isso é uma sacanagem, o carioca é um cara honesto, e talvez um dos mais honestos. Por exemplo, conta de bar. Nunca vi em SP, MG e em GO onde morei, nem em Ribeirão Preto, onde fui criado. Se tem três casais na mesa, aqui você divide pelos seis, lá não, você tem que pagar a conta da mulher do outro. Eu não pego a mulher do outro, pra que pagar a parte da conta dela? Conheço cariocas honestíssimos, idealistas, desprendidos. O Ivan Lins é um bom exemplo. Sabe a música mais falada dele, “Madalena”? A letra diz em determinado momento, “o que é meu não se divide”, e ele me disse que sente tristeza em cantar isso. Porque é o cara mais desprendido do mundo, que divide tudo, compartilha tudo. É um amigo das horas certas e incertas. Esse são os amigos de verdade.

UOL – O que mais a mudança para a cidade lhe trouxe de bom?
Jorge Kajuru – Pude fazer aqui o que não estava fazendo, estou tendo sucesso comercial. Meu blog, com três meses de vida, já tem 2 milhões de acessos e 10 patrocinadores. A TV tem vídeo atualizado todo dia. Gravo o programa para o Esporte Interativo diariamente, ele é bem factual, e tem 3 reprises por dia. Aqui eu vejo meus amigos toda semana, almoço com eles. Recebo amigos de SP, aluguei um apartamento grande para isso. Sócrates sempre me visita, com a mulher dele. Todas as minhas amigas de infância me visitam aqui, todo final de semana tem alguém aqui. Nunca fico sozinho.

UOL – Mora sozinho?
Jorge Kajuru – Vivemos eu e minha mulher, em um apartamento alugado na Barra da Tijuca. Em função do que aconteceu comigo em Goiás, quando minha mulher foi violentada pelas denúncias que fiz a respeito de um político [Marconi Perillo], não quero expor a identidade de quem está ao meu lado e vivemos de maneira discreta.

UOL – Coisas que você não tinha em SP?
Jorge Kajuru – Em São Paulo, quando você sai à noite, com seus amigos, a conversa é só uma: o seu trabalho ou para meter o pau em alguém da televisão. Aqui não, é relaxamento total, não se fala de trabalho.

UOL – Pratica esportes? Você está bronzeado…
Jorge Kajuru – Ando todo dia, à noite. Faço caminhada às 11 da noite, quando tenho oportunidade de ver as atrizes da Globo que moram na Barra. É uma tranquilidade.

UOL – Joga futebol?
Jorge Kajuru – Faço pelada uma vez por semana, com meio olho. Adoro dar passe com o calcanhar, que aprendi com Sócrates, quando morava em Ribeirão Preto.

UOL – E suas reportagens, como você apura daqui?
Jorge Kajuru – Gasto 3 mil reais por mês em telefonemas, tenho 3 aparelhos que mantenho ligados o dia inteiro. As pessoas do bem do futebol gostam de mim.
Torço contra o Brasil na Copa do Mundo, enquanto a dinastia que está no comando da CBF estiver por aí.
Kajuru, sobre a seleção brasileira
UOL – Você deu um trote no Renato Gaúcho?
Jorge Kajuru – Quiseram me sacanear com essa história. O Renato mesmo declarou que não foi trote nenhum, que ele falou com o Kajuru, trote não. Aquilo ali foi para me desmoralizar, eu tenho um monte de inimigo na imprensa. O Milton Neves fica o dia inteiro pensando em qual sacanagem vai fazer comigo. Porque eu o execro nas cinco palestras que faço por mês.
UOL – É seu grande inimigo?
Jorge Kajuru – Eu escolhi meus inimigos e amigos nesses 35 anos de carreira. Tenho tanto orgulho dos meus inimigos, que nem os considero inimigos, por não serem suficientemente inteligentes para me fazerem ter ódio, e o ódio nunca é melhor do que a paz. Esquecimento é o único perdão, e a única vingança, eu esqueço, eu deleto, o contrário do amor não é o ódio e a indiferença.
UOL – Mas você esquece seus inimigos?
Jorge Kajuru – Esqueço, mas quando eu vou dar entrevista, tenho que os cutucar.
Veja o que Kajuru diz sobre Ronaldo, Muricy Ramalho e Adriano
Adoro ele como pessoa. Não quero descobrir que o Ronaldo está lavando dinheiro no futebol, sempre foi um cara honesto mas agora, como empresário, não tá sozinho nesse jogo. Tô apurando ainda, mas desconfio que quem é sócio dele é o russo Abramovich, um bandido da pior, dono do Chelsea, e que lava dinheiro no futebol. Acho que a vida do treinador só depende do resultado, resultado e nada mais. E eu apurei, antes de todos, que tinha coisa cabeluda na saída do Muricy Ramalho do Fluminense: houve uma proposta de redução de 40% do salário dele. Se estivesse em uma Band, o assunto teria repercutido. Sobre o Adriano beber, não vejo problema. Porque conheci muitos jogadores que faziam isso, o Sócrates, por exemplo, bebia todo dia. Conheci o João Saldanha, que relatava que o Garrincha bebia a noite inteira anterior o jogo, e era um gênio. Não acredito que nem o sexo, nem a bebida, prejudiquem o desempenho do jogador.

UOL – Qual a sua relação com Ronaldo?
Jorge Kajuru – Já fui muito amigo dele. Em 2004, ele deu a que considero ser a maior declaração da minha carreira: se um dia ele fosse jornalista, ele gostaria de ser como Kajuru, que apura tudo, vai atrás de tudo e que não tem medo de falar as coisas. Fui convidado e acompanhei o casamento dele com Cicarelli no castelo de Chantilly. Adoro a Cicarelli, acho que ela foi sacaneada. Ela saiu limpa do casamento com o Ronaldo, mas, na época, ele tinha até o rabo blindado. Então ela ficou como vagabunda. Ela se expôs demais, mas ela não era a galinha. Ronaldo era o galinha, ficou três dias fora de casa, sumiu em Madri. Como, antes do casamento, ela avisou que não ia tolerar aquilo, ela foi embora. E saiu sem nenhum tostão, falaram até que ela ganhou R$ 15 milhões. O Ronaldo que era blindado.

UOL – O que achou da contratação do Zico para a TV Esporte Interativo?
Jorge Kajuru – Zico é meu ídolo, estou muito feliz de poder trabalhar com ele, farei parte do time que irá transmitir a final da Copa do Rei, agora, no dia 20 de abril.

UOL – Já torceu para algum time de futebol?
Jorge Kajuru – Sim, o Palmeiras, mas parei em 86, quando vi que futebol era negócio. Aí passei a ver futebol com os olhos, não com o coração. Daqui há pouco você vai ter que gritar o nome de um banco, no lugar do nome de um time… Já antecipei que a Copa de 2014 está comprada. Fui o único jornalista a dizer que o Brasil ia perder a de 2010, e que vai ganhar a Copa de 2014. Não haverá um segundo “Maracanazo”, salvo milagre de Deus, se, na final, Argentina versus Brasil, rolar um gol de Messi. Porque torço contra o Brasil na Copa do Mundo, enquanto a dinastia que está no comando da CBF estiver por aí

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